TENSÃO PRÉ-COPA .

TENSÃO PRÉ-COPA
13 Mai 2014

Com greves, atos de repúdio e até ataque à embaixada do Brasil na Alemanha, cresce movimento contra realização dos jogos

 

NOVA TEMPORADA DE PROTESTOS

Nas cidades-sede, estão previstas pelo menos 15 manifestações. Atos em Londres e Santiago são programados

CRISTINA TARDÁGUILA, LETÍCIA FERNANDES E TIAGO DANTAS

 A menos de 30 dias da abertura oficial da Copa do Mundo, o calendário de protestos se revela intenso. Nas 12 cidades-sede, pelo menos 15 atos de repúdio ao evento ocorrerão nas próximas semanas — numa média de uma manifestação a cada dois dias.
Para elevar ainda mais o nível de tensão que antecede a disputa esportiva, há uma série de greves previstas. Dos professores aos rodoviários, passando pelo aeroviários e até os funcionários do Itamaraty. Reflexos desse clima aparecem também no exterior. Na madrugada de ontem, um grupo ainda não identificado de homens encapuzados e vestidos de preto atirou 80 pedras contra os vidros da embaixada brasileira em Berlim. Na internet, um "comitê autônomo" informou que o ato havia sido feito em solidariedade aos protestos dos brasileiros contra a Copa do Mundo. Em Santiago do Chile, haverá uma manifestação em repúdio à competição na próxima quinta-feira. O ponto de encontro também é em frente à embaixada. Atos do mesmo tipo devem ocorrer ainda em Londres e na Cidade do Cabo.
Unidos pelo mote "Não vai ter Copa", um dos slogans que marcaram os protestos de junho — fossem eles contra o aumento da passagem de ônibus, fim da corrupção ou por outra demanda qualquer —, grupos tentarão repetir a mobilização do ano passado. A próxima quinta-feira, por exemplo, foi batizada de "Dia Internacional de Luta contra a Copa". Estão previstos atos nas 12 cidades-sede, além de eventos em locais que não receberão jogos, mas atletas — como Vitória, Aracaju e Maceió.
A organização desses atos do dia 15 corre por conta da Articulação Nacional dos Comitês Populares da Copa (Ancop), que reúne partidos de esquerda como PSOL, PSTU e PCB, além do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), de movimentos estudantis e até de sindicatos de trabalhadores.
Formado em Comunicação pela Universidade de Brasília (UnB), Thiago Ávila tem 27 anos, é membro da Ancop e se dedica exclusivamente à organização dos eventos. Ele afirma que, se depender da mobilização que os grupos pretendem fazer na rua, a Copa será "rebelde". E diz que, no último ano, houve um amadurecimento por parte daqueles que protestaram em junho.
— Antes não tinha diálogo, e cada um definia a tática que queria — lembra. — Mas houve um amadurecimento político absurdo. Grande parte dos black blocs viu que o caminho do enfrentamento nem sempre é o melhor, então está começando a construir e decidir mais coletivamente. Não vai ter Copa no modelo que eles queriam. Vai ter uma Copa de muita discussão.TENSÃO PRÉ-COPA
O "Movimento Contra Copa 2014", responsável por convocar os seis atos que ocorreram em São Paulo desde janeiro, vê conexões entre o atual momento e o de junho do ano passado. Um dos argumentos usados para a mobilização é o de que o poder público não respondeu às demandas das ruas.
Para a professora da Universidade Federal do Estado de São Paulo Esther Solano, que pesquisa a participação de black blocs nos protestos de São Paulo, as manifestações deixam um legado:
— Elas serviram TENSÃO PRÉ-COPApara quebrar o estereótipo de que o Brasil é o país do futebol. Os brasileiros vão mostrar os problemas e a insatisfação com as coisas.

57 MIL HOMENS DE PRONTIDÃO

Forças Armadas se preparam para garantir segurança e enfrentar aquilo que o governo federal já diz ser ‘um mês duro'

ANTÔNIO WERNECK E RENATO ONOFRE

 "Não sei se (este mês) é o mais difícil do governo. Mas que vai ser um mês duro, vai". É assim que o ministro Gilberto Carvalho, Secretaria- Geral da Presidência da República, enxerga a proximidade da Copa do Mundo e o calendário de protestos que já foi estabelecido. Considerado o principal articulador da presidente Dilma Rousseff junto aos movimentos sociais, Carvalho admite que o governo falhou por não ter explicado à população os gastos ligados à competição, mas, mesmo assim, a defende com unhas e dentes por achar que, no fim das contas, o Brasil sairá mesmo ganhando:
— Não pense que haverá uma Copa sem manifestações. Este é o novo Brasil. As manifestações vieram para ficar. O turista tem que entender a nova realidade.
Carvalho tem, no entanto, a expectativa de que os atos diminuam quando a Copa começar e chegar ao fim o prazo legal para o reajuste do funcionalismo:
— Buscamos sempre o diálogo. Basta ver a postura que a presidente assumiu nos últimos meses, mas não vamos permitir violência. Isso não será tolerado.
E, passado o trauma da violência dos protestos de junho de 2013, e da criticada reação da polícia, os ministérios da Justiça e da

Defesa e a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) decidiram atuar em parceria com as secretarias estaduais de Segurança. A ideia é garantir um ambiente seguro tanto dentro quanto fora dos estádios e evitar a confusão que marcou a Copa das Confederações. Por isso, os secretários de Segurança assistirão aos jogos nos centros de controle. Não mais nos estádios.
As Forças Armadas estimam que 57 mil homens estarão de prontidão para assumir o controle da Segurança Pública em caso de greve de polícias ou de manifestações em série. Desse total, 21 mil homens ficarão nos quartéis como plano de contingência. Os militares também vão policiar estruturas estratégicas, como estações de energia, abastecimento de água e torres de comunicação, e comandarão o espaço aéreo (que terá zonas de exclusão) e a costa.
Em cada cidade-sede, a previsão das Forças Armadas é oferecer um reforço de até três mil homens. Cada cidade terá um Centro de Coordenação de Defesa de Área (CCDA), chefiado por um general. No Rio, por exemplo, ficará sob os cuidados do general Luiz Eduardo Ramos Baptista Pereira, comandante da 1ª Divisão de Exército (DE).
A segurança nos locais de jogos ficará a cargo do Ministério da Justiça, através da Secretaria Extraordinária de Segurança para Grandes Eventos. Cada cidade-sede terá ainda um Centro Integrado de Comando e Controle Regional (CICC), onde funcionará o núcleo das operações. Além da segurança nos estádios, a secretaria será responsável pela segurança de chefes de Estado, diretoria da Fifa e autoridades brasileiras. Também vigiará os centros de treinamento, locais de transmissão de jogos pela Fifa, hotéis, fronteiras, portos, aeroportos, pontos turísticos e as delegações. A previsão é que sejam mobilizados cerca de 100 mil homens em todo o país, entre Polícia Federal, Polícia Militar, Polícia Civil, Força Nacional, Bombeiros e guardas municipais. Há ainda 15 mil homens contratados pela Fifa para atuar dentro dos estádios como seguranças particulares.
A Abin vai reunir no Centro de Comando e Controle todas as agências nacionais que integram o sistema de inteligência nacional. O grupo vai atuar em contato direto com agências de outros países. Os Estados Unidos, por exemplo, trarão ao Brasil mais de cem agentes. E a Abin será responsável por monitorar e divulgar diariamente às agências parceiras a análise de risco da Copa do Mundo.

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