Promulgada emenda que beneficia 'soldados da borracha'.

Da Redação
Os seringueiros que foram para a Região Amazônica, na década de 1940, colher matéria prima para ser usada em equipamentos destinados  às forças do Brasil 2ª Guerra Mundial vão receber uma indenização única de R$ 25 mil. A proposta de emenda constitucional que assegura o benefício aos chamados soldados da borracha foi promulgada nesta quarta-feira (14). A Constituição já prevê que eles têm direito a pensão vitalícia no valor de dois salários mínimos, o equivalente hoje a R$ 1.448,00.
De acordo com o senador Aníbal Diniz (PT-AC), cerca de seis mil seringueiros, além de sete mil dependentes serão contemplados. Ele espera que o dinheiro seja recebido ainda este ano.
— Temos outra batalha junto ao Ministério do Planejamento para que a indenização seja paga ainda em 2014 — informou .
O deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), que é o autor da proposta que resultou na Emenda Constitucional 78, lembrou que foi uma “batalha” de anos para que o Brasil reconhecesse os soldados da borracha como combatentes de guerra.
— Foi no atual governo da presidente Dilma Rousseff e através da iniciativa do parlamento brasileiro que nós estamos fazendo mínima justiça a esses combatentes.
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB/AM), por sua vez, reforçou que o benefício é resultado de um acúmulo de lutas.
— Estamos mais uma vez resgatando a história desses homens e mulheres que foram tão importantes para o Brasil.
Já o senador Inácio Arruda (PCdoB/CE) ressaltou que a enorme maioria dos seringueiros saiu da Região Nordeste e boa parte deles do estado do Ceará.
— Recebam essa indenização como justiça. É pouca, mas é a justiça que o Estado brasileiro está fazendo neste momento.
Queixas
Ao final da sessão comemorativa, o soldado da borracha Belizário Costa, de 96 anos, reclamou que o salário oferecido aos soldados da borracha é uma “mixaria”. E disse que os R$ 25 mil oferecidos a título de indenização por meio da PEC “é o mesmo que os deputados gastam com café da manhã”.
Ele responsabilizou a presidente da República, Dilma Rousseff, e a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) pelo que acredita ser um baixo valor de indenização. De acordo com ele, a deputada "não gosta dos acreanos e nunca mais será eleita".
A senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB), que presidia a sessão, explicou que a deputada apresentou proposta para indenizar os soldados da borracha logo após ser eleita deputada federal. Na opinião da senadora, a Perpétua sempre defendeu os interesses do grupo e da população do Acre. Também lembrou a Belizário que todos os deputados e senadores presentes lutaram intensamente para que o governo federal reconhecesse o papel histórico dos soldados da borracha.
– Não sei, senhor Belizário, se há alguma motivação política para que o senhor diga o que foi dito aqui. O que sabemos é que essa é uma sessão comemorativa pelo fato de o governo estar destinando mais de R$ 300 milhões como resgate — disse.
O senador Mario Couto defendeu o ex-seringueiro.
Belizário havia iniciado seu discurso contando que foi contratado em 1942, sem saber quem era o patrão, e a todos quantos foram para a mata foi prometida a patente de oficial. Ele lembrou os colegas que como ele deixaram as famílias no Nordeste rumo ao Amazonas iludidos, achando que iriam ganhar a vida.
– Trabalhamos bastante para mandar borracha para os Estados Unidos. Vi muitos companheiros morrerem à míngua, sem um comprimido para tomar. Éramos 55 mil. Hoje, se muito, somos 20 mil.
Segundo Belizário, o então presidente Getúlio Vargas determinou aos que não tinham ido para a guerra a tarefa de cortar seringueira na mata. Os Estados Unidos demandavam que o Brasil fornecesse borracha para pneus. Belizário afirmou ter trabalhado por quatro anos comendo caça com farinha d´água e sal.
– Nós que ganhamos a guerra. Nossos governantes hoje não dão valor para nós. Quando nos contrataram, prometeram tudo. E eu, até hoje nem casa eu tenho. Moro de aluguel, ganho dois salários mínimos que não dão nem para comprar o que comer.
História
Durante a 2ª Guerra Mundial, cerca de 60 mil pessoas, a maioria de estados nordestinos, foram levadas à Região Amazônica para trabalhar na extração da seringa. A borracha era enviada aos Estados Unidos e usada nos equipamentos dos Aliados para a guerra contra as forças do Eixo.
Os trabalhadores foram recrutados pelo Semta (Serviço Especial de Mobilização de Trabalhadores para a Amazônia), com promessas de melhoria de vida. De acordo com a senadora Vanessa Grazziotin, mais da metade acabou morrendo em razão das péssimas condições em que estavam.

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